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Inicialmente, queremos externar o quanto nos surpreendeu a notícia “Após três anos sem shows presenciais, UFGD realiza ‘Ana Cañas Canta Belchior’, em 26 de maio”, novidade logo frustrada por um “ganhar e não levar”, tão comum à rotina intervencionista dos últimos três anos na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).

Na corriqueira ausência de diálogo, marca registrada da intervenção, subimos a montanha-russa das emoções embalados por questões, como “em momento de corte de recursos tão severo, de onde vem o recurso financeiro para a realização do evento?”, “que evento é esse que sequer teve projeto apresentado aos conselhos superiores da universidade?”, entre outras perguntas que não tivemos a oportunidade de fazer.

Logo, a informação adicional de que o evento é patrocinado por uma instituição financeira privada nos causa estranhamento já que parcerias público-privadas podem ocultar objetivos diversos, sobretudo pelo fato de que tais entidades geralmente trabalham o patrocínio baseado na troca e na busca por vantagens comerciais e/ou de divulgação e de marketing. 

Os mais otimistas, que enxergam o copo meio cheio, dizem “mas, pelo menos, a entrada é gratuita, como sempre foi!”. E, de novo, voltamos duas casas: os ingressos são limitados. Limitados como nunca foram nos grandes eventos promovidos pela UFGD em outros tempos, quando a instituição era notória por ser a grande promotora de cultura em Mato Grosso do Sul.

UFGD de eventos no parque, na rua, na praça, para Dourados e toda a região, e que chegaram a acolher mais de cinco mil espectadores em um único dia. UFGD que agora limita e promove limitação, palavra que não combina com acesso, que não acolhe, que não inclui todas as pessoas, aquelas, presentes no slogan da própria universidade.

Ainda, em que pese o fato de seguirmos vivendo um momento de pandemia, mais do que nunca, prudente seria a realização de um evento em ambiente aberto, mas para nossa surpresa – ou não – o show acontecerá em ambiente fechado. O que se pode justificar como uma tentativa de redução de custos ou, talvez, de redução do trabalho, afinal, não é fácil produzir, adquirir alvará provisório, alugar estruturas, coordenar montagens, providenciar Anotações de Responsabilidade Técnica (ARTs), entre tantas outras demandas da organização de um evento.

E apesar de tantas contradições, alunos, alunas, técnicos, técnicas e docentes foram devidamente comunicados sobre a corrida pelos ingressos! “Corram, corram, cada pessoa, com seu CPF, terá direito a uma entrada!”. Mas antes que pudéssemos dizer “lá vamos nós”, perdemos de novo. Ingressos ESGOTADOS! O show não é para todos!

Cá pra nós, esgotamento também se tornou um sentimento comum ao longo dos últimos anos. Esgotam-se recursos, investimentos, espaços democráticos. A escassez é o sintoma que mata à míngua tanto a educação quanto a cultura, local e nacional.

Como não sentir saudade da integração das comunidades interna e externa da UFGD, todos juntos em celebração à arte e à cultura, em um processo de aprendizagem, de troca, de valorização e de enriquecimento da vida acadêmica e social? De repente, a democratização do acesso à arte e à cultura em Dourados e região se dividiu em dois lotes – até o momento – que, no total, contemplam apenas cerca de 8% da comunidade acadêmica e 0,35% da população douradense.

Ao que tudo indica, a comunidade acadêmica em sua totalidade e a população em geral da Grande Dourados, bem como o real acesso à cultura – sim, o real, o genuíno, o não panfletário – não são bandeiras das gestões interventoras.

“Pela dor a gente descobre o poder da alegria”. Que as palavras de Belchior, porta-voz do inconformismo diante de realidades opressoras, nos tragam um pouco mais de consciência política. E aos poucos beneficiados pela limitada e controversa oportunidade cultural, não deixemos de fazer juízo crítico sobre os lugares em que já estivemos e em que estamos agora. Triste momento vive a UFGD, espaço que foi sonhado e, ao tornar-se realidade, passou a realizar sonhos.

A ela e, por consequência, a nós, desejamos educação e cultura reais, que só farão o trajeto de volta para estes lados quando intervenção e autoritarismo desocuparem o caminho.

SINTEF, Sindicato dos Trabalhadores em Educação das Instituições Federais

ADUF, Sindicato dos Professores da UFGD